O ano de 2008 é muito especial para uma parte bem significativa de brasileiros. No ano em que se comemora o centenário da imigração japonesa no Brasil, os descendentes desse povo mágico e encantador recebem e promovem homenagens em todos os cantos do País. E, nossa forma de homenagear é apresentando uma das mais belas técnicas criadas com um toque muito especial de particularidade: o paisagismo. É na beleza e na força da natureza que eles encontram uma forma de estar em equilíbrio e atrair boas energias. Quem nos dá as dicas é o arquiteto Guilherme Takeda, que atua em Porto Alegre e conhece bem as práticas japonesas quando se trata de embelezar jardins.
Ele começa contando que a influência da arquitetura oriental começou no Brasil com os chineses, especialmente nas inflexões dos telhados, já com uma forte influência portuguesa, o que se pode constatar por causa da colonização portuguesa na cidade de Macau, na China. “A utilização de vermelhos e dourados tem muito a ver com tudo isso e começou por volta de 1780, nos primórdios da arquitetura”, conta Takeda.
Com a vinda dos japoneses no início do século 20, prossegue o arquiteto, a arquitetura por aqui passou a ser fortemente influenciada por eles. Os profissionais descendentes de japoneses formados no Brasil é que começaram a dar os primeiros traços. “O Brasil é um país jovem, ainda em formação, então temos a colaboração japonesa muito presente na arquitetura contemporânea brasileira”, afirma o arquiteto.
No paisagismo, continua Takeda, o trabalho com água e pedras é básico, essencial. Isso vem da filosofia oriental que indica estes elementos como ligados à purificação, limpeza. O barulho da água traz a sensação de relaxamento. “A água é tida como o elemento da vida”, acrescenta.
O uso de bambus também tem um sentido religioso, de acordo com Takeda. Está relacionado à persistência, pois o bambu diante do vento se enverga, mas não se dobra. “Tem a ver com a firmeza e com a flexibilidade que o ser humano precisa para viver em equilíbrio”, ensina.
Os lagos fazem parte do trabalho reforçando a importância da água e também a presença das carpas, peixes que convidam à meditação diante da observação de seus movimentos. As carpas japonesas são as mais indicadas por terem a cabeça chata e poderem ser observadas de cima. “Os movimentos induzem a um estado de relaxamento, introspecção”, reitera Takeda.
As pontes nos jardins e lagos japoneses, da mesma forma, tem um significado muito forte. Elas estão relacionadas ao sentido de passagem, assim como os pórticos, como se fosse um momento de mudança, de entrar em um local sagrado.
De acordo com ele, no Brasil e especialmente no Rio Grande do Sul, esses locais são criados com adaptações à realidade climática. Aqui no Estado, diz ele, os jardins são projetados para que sejam atrativos nas diversas épocas do ano. No Japão, acrescenta, não é diferente, as visitas são programadas, na primavera, por exemplo, a atração são as cerejeiras, já no outono, os plátanos são o destaque. Essa vulnerabilidade, explica o arquiteto, se aplica exatamente à situação humana. As pessoas passam por mudanças, logo, a natureza também. “O paisagismo é uma arte diferenciada, porque não se trata de um quadro que será pendurado em uma parede e não será mais alterado”, comenta. Ele ressalta que a possibilidade de alterar um mesmo terreno é uma ferramenta fantástica no paisagismo, especialmente em locais subtropicais. “Hoje, os profissionais encontram muitas formas de idealizar estes projetos, é mais fácil diante do fornecimento de elementos para criá-los”, conclui Takeda.